Tributo à memória de um sanjoanense
“As pessoas deixam muito de si por onde passam....”
Teófilo deixou. Até hoje sua imagem serena comove e traz alento àqueles que, de alguma forma, conviveram com ele. No último dia 5 de maio, comemorou-se o centenário de nascimento de Teófilo Ribeiro de Andrade Filho (1922 – 2015), acadêmico atuante por 39 anos. Mesmo residindo na capital, fazia questão de participar das atividades da Academia de Letras. Foi apenas no último ano de vida que, impossibilitado de comparecer, solicitou a transferência para membro correspondente.
Natural de São João da Boa Vista, teve uma profícua e relevante carreira profissional como jurista, homem público e professor universitário. Graduado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, iniciou suas atividades advocatícias abrindo um escritório com um colega na praça da Sé, centro da capital, onde granjeou inúmeros amigos e clientes, tendo inclusive nessa época, advogado para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Advogado militante, teve atuação destacada junto aos órgãos representativos de classe, tendo sido conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB – Secção São Paulo, da Associação dos Advogados e do Instituto de Direito Social.
Ainda na área jurídica, cursou pós-graduação na USP, tornando-se professor titular por muitos anos das disciplinas de Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional e Direito Administrativo na Faculdade de Direito de Osasco.
Dotado de espirito público nato, provavelmente herança genética do pai, ingressou na política no final dos anos 50, tendo trabalhado com Jânio Quadros no seu primeiro mandato como prefeito de São Paulo. Foi ainda suplente de deputado estadual. Na gestão de governador do professor Carvalho Pinto, exerceu o cargo de presidente da Caixa Econômica Estadual durante todo o mandato, direcionando recursos para as prefeituras do interior investirem em obras de infraestrutura e saneamento básico.
O ápice da sua carreira aconteceu na década de 60, quando foi eleito para deputado federal (1963 – 1967) pelo antigo PDC - Partido Democrata Cristão. Apesar da modesta campanha eleitoral, obteve expressiva votação popular, sendo até hoje o único sanjoanense a conseguir esse cargo em nível federal. Com a reorganização partidária promovida pelo Governo Militar e coerente com suas convicções democráticas, optou pelo MDB – Movimento Democrático Brasileiro.
Reconhecido pelas suas virtudes e competência profissional, independentemente de viés partidário, foi convidado em duas ocasiões distintas para exercer o cargo de Secretário dos Negócios Internos e Jurídicos da Prefeitura de São Paulo na gestão dos prefeitos Faria Lima e Olavo Setúbal, época que a Capital passou por grandes e importantes transformações urbanísticas.
Culminou sua carreira nesse campo, como Conselheiro do Tribunal de Contas do município de São Paulo, tendo sido o seu primeiro presidente.
Profundamente cristão, com visão humanista e ecumênica, sempre observou com acuro, no cotidiano, os princípios e valores da doutrina revelada. Teófilo é fruto de uma formação religiosa manifestada desde os tempos universitários, quando foi presidente da JUC – Juventude Universitária Católica – representando o Brasil no Congresso Mundial da “Pax Romana” em Madrid, em 1946. Todo esse engajamento e convicção religiosa transformou-o num homem de sólido caráter, incapaz de transigir nas questões éticas e sensível às causas sociais.
Aquinhoado de uma estatura intelectual rara e de uma extraordinária capacidade de trabalho, atuou intensamente em diversos segmentos da sociedade, produzindo inúmeros artigos, conferências, pareceres, projetos e relatórios publicados na imprensa especializada.
Na área cultural, legou aos pósteros produtivas iniciativas como a coordenação da compilação de artigos publicados na imprensa local pelo seu pai historiador – Theophilo de Andrade – transformando-os em dois livros, importantes fontes de consulta para estudiosos da história do município.
Em São Paulo, na década de 80, participou de forma efetiva na organização de iniciativas voluntárias de sanjoanenses residentes na Capital com o objetivo de angariar recursos para a restauração de um dos marcos históricos da cidade: a Catedral de São João da Boa Vista, construída em 1890.
No trato social era pessoa acessível, polido no tom de voz, na elegância da gentileza e na deferência para com o interlocutor. Facultava atenção a todos que o procuravam, atraídos por seu comportamento amável, conversa agradável e simpatia pessoal.
Tinha outras paixões: a família, os amigos e os estudos. Apreciava demais o convívio familiar e os encontros de amigos, principalmente de conterrâneos. Da sua união com Alda Assumpção Amaral, nasceram duas filhas, Sílvia e Anamaria, quatro netos e sete bisnetos que se mantêm unidos e perseverantes no núcleo familiar, influenciados pelo exemplo dignificante de seus pais.
Era incansável nos estudos, com especial predileção pelos idiomas. Além do domínio básico do inglês e francês (como representante do Brasil, defendeu tese em francês, no plenário do Congresso Interparlamentar Mundial em Teerã, antiga Pérsia, em 1966), estudou alemão e, já em idade avançada, aos 86 anos, iniciou curso de grego.
Em reconhecimento aos seus esforços pelo desenvolvimento do município, a Câmara Municipal de São João da Boa Vista outorgou-lhe a medalha do “Mérito Cívico 24 de junho” e, posteriormente, em 2003, o título de “Cidadão Benemérito”. Também como homenagem, em 2020, a Prefeitura Municipal atribuiu o seu nome ao recém-criado Parque Linear, próximo à UNIFEOB
Deixou-nos o exemplo de uma personalidade imbuída de bons propósitos, convicta de seus ideais, apaixonado por São João e sua gente.
Raul de Oliveira Andrade Filho Acadêmico Cadeira 44 – Patronesse Cecília Meireles